segunda-feira, 4 de março de 2013

Fortalezas (Fortes) do Brasil - Parte I



FORTE DE NOSSA SENHORA DO PÓPULO E SÃO MARCELO - Salvador/BA




* Texto retirado do site: http://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=83


O Forte de São Marcelo localiza-se sobre um pequeno banco de recifes a cerca de 300m da costa, no porto, fronteiro ao centro histórico de Salvador, no litoral do Estado da Bahia.

Vista da parte superior do Torreão Central do Forte São Marcelo. Ao fundo, o Centro Histórico de Salvador - Foto: Roberto Tonera. Maio, 2009.


A sua concepção primitiva remonta a 1608 com risco do Engenheiro-mór e dirigente das obras de fortificação do Brasil, Francisco de Frias da Mesquita (1603-34). Alguns autores atribuem-no ao Engenheiro-mór de Portugal, o cremonense Leonardo Turriano, em 1605. Encontra-se figurado por João Teixeira Albernaz, "o velho" (Planta da Cidade de Salvador, 1616. Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro), como "Forte sobre a laje do porto que se há de fazer", a ser artilhado com seis peças, apresentando o formato de polígono quadrangular regular. Terminado em 1623 no Governo Geral de D. Diogo de Mendonça Furtado (1621-24), foi artilhado inicialmente com dezenove peças de diversos calibres (BARRETTO, 1958:174). Durante a invasão holandesa de 1624, foi a primeira praça ocupada pelos holandeses, que dele dispararam balas incendiárias que aterrorizaram os moradores de Salvador, facilitando a invasão. Em abr-mai/1638, durante a tentativa de invasão do Conde Johan Maurits van Nassau-Siegen (1604-79), teria papel decisivo, mantendo a esquadra holandesa à distância.

Detalhe do atracadouro do Forte São Marcelo - Foto: Roberto Tonera. Maio, 2009.


Sua reconstrução foi determinada pela Carta-régia de 04/out/1650 (SOUZA, 1885:93), no Governo Geral de João Rodrigues de Vasconcelos e Souza (1649-54), reforçando a defesa do porto de Salvador, proporcionada pela Bateria da Ribeira, o Forte da Gamboa e o Forte de São Pedro, com os quais cruzava fogos.

A nova obra, a cargo do Engenheiro francês Felipe Guiton, posteriormente substituído pelo seu conterrâneo Pedro Garcin, tem a planta no formato circular, constituindo-se num torreão central de 15 metros de altura, envolvido por um anel formado pelo terrapleno perimetral, com a mesma altura. No interior do torreão central localizam-se os Quartéis da tropa e a Cisterna, e no interior do terrapleno perimetral, a Cozinha, as dependências do Comandante, e o Corpo da Guarda. Estas salas, retangulares, têm cobertura em abóbada de berço, e exceto as situadas à direita do portão de entrada, não tem comunicação entre si, apenas o vão da porta que se abre para o corredor circular separando o anel perimetral do terrapleno central. 

A construção é em cantaria de arenito até a linha d'água e o restante em alvenaria de pedra irregular, rara no país, uma vez que se encontra completamente dentro do mar, como o Forte da Laje no Rio de Janeiro. Concluída apenas em 1728, no governo do Vice-rei D. Vasco Fernandes César de Menezes (1720-35), encontra-se representado em iconografia de José Antônio Caldas (Planta e fachada do forte do Mar N. Srª do Populo, e S. Marcelo. in: Cartas topográficas contem as plantas e prospectos das fortalezas que defendem a cidade da Bahia de Todos os Santos e seu reconcavo por mar e terra, c. 1764. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa). Sofreu reparos no governo do Vice-rei D. Marcos de Noronha e Brito (1806-08), quando foi artilhado com quarenta e seis peças de bronze e ferro, de diversos calibres (GARRIDO, 1940:89).

Canhão que encontra-se no acesso principal do Forte São Marcelo - Foto: Roberto Tonera. Maio, 2009.

A partir do século XIX, o forte esteve envolvido na maioria dos conflitos políticos em Salvador, desde a Guerra da Independência (1822-23), onde João das Botas (líder da frota de canoas e de saveiros que bloqueava o porto de Salvador) hasteia uma bandeira verde e amarela (02/jul/1823) nesta fortificação abandonada pelas tropas portuguesas sob o comando do Coronel Inácio Luís Madeira de Melo (1775-1833) em retirada (SOUZA, 1885:73), como a Revolução federalista dos Guanais (1832-33), e a Insurreição dos Malês (1835). Como prisão política, durante a Guerra dos Farrapos (1835-45) recolheu o líder farroupilha Bento Gonçalves (1788-1847), que de lá escapou (10/set/1837) após ter sido vítima de uma tentativa de envenenamento. Durante a Sabinada (1837-38), foi o último reduto dos revoltosos republicanos, ali tendo sido aprisionando em seguida, entre seus líderes, o cirurgião Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira (1838).

No contexto da Questão Christie (1862-65), o "Relatório do Estado das Fortalezas da Bahia" ao Presidente da Província (03/ago/1863), dá-o como reparado (ROHAN, 1896:51), citando: "Demora no meio do porto desta Cidade, defronte do Arsenal de Marinha e a 760 braças do Forte da Gamboa, que lhe fica a N. É circular, à barbeta, com o desenvolvimento de 1.212 palmos e monta 30 peças de calibre 32.
Está pronto; mas convém que o terrapleno do lado de terra seja cimentado, completas as guardas das rampas, outras ligeiras reparações e substituição de ferragens do portão e janelas." (Op. cit., p. 58-59).

Passou, a partir desse ano (1863), para a jurisdição do Ministério da Marinha, utilizado como Quartel da Companhia de Aprendizes Marinheiros tendo voltado a ser subordinado ao Ministério da Guerra em 1880, quando sofreu reparos para acantonar um destacamento de Artilharia (GARRIDO, 1940:90). Sobre o portal de entrada, o escudo de armas do Império foi mutilado após a proclamação da República (1889), quando a coroa monárquica foi substituída por uma estrela de cinco pontas. Tomou parte no bombardeio da cidade, juntamente com o Forte do Barbalho e com o Forte de São Pedro (10/jan/1912), no contexto da Política das Salvações do Presidente da República, Hermes da Fonseca (1910-14). Na ocasião foram alvejados o Palácio do Governo, a Prefeitura Municipal, o Teatro de São João (GARRIDO, 1940:92) e a Biblioteca Pública de Salvador, tendo esta última se incendiado em decorrência, com a perda de importantes documentos históricos do Arquivo da Bahia. 

Espaço adaptado para abrigar exposições no Forte São Marcelo - Foto: Roberto Tonera. Maio, 2009.

Com uma área total construída de 2.500m2, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1938. Após quatro décadas de fechamento, foram procedidos trabalhos de restauração (1978-83) pelo IPHAN, abrigando o Museu Arqueológico do Mar, voltado para o modelismo naval e a arqueologia submarina, com acervo do Serviço de Documentação Geral da Marinha e o apoio do 2º Distrito Naval.




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